No ano 2000, Romário fez gols aos
cântaros
Quando um craque do futebol celebra
uma data redonda, chovem dados e análises a respeito do que ele fez com ela, a
redonda. Foi assim na última sexta, quando Romário completou cinquenta anos.
Mas está redondamente enganado quem supõe que o aguaceiro de estatísticas e
historietas esgota o assunto, explorando-o por inteiro. Na minha mal-ajambrada sombrinha,
não pingou nada sobre uma incrível marca atingida no ano 2000: 72 gols em jogos
oficiais. Àquela altura, somente Gerd Müller (85 gols em 1972) e Pelé (75 gols
em 1958) tinham números superiores. Ao marcar torrenciais 91 gols em 2012, Lionel
Messi superou todas essas performances.
Hoje Romário é, portanto, o número 4
de uma lista respeitabilíssima, algo digno de ser lembrado em suas “bodas de
filó”. O toró de gols no ano 2000 foi mesmo espantoso. Um dilúvio que acompanhei
atentamente, dada a intensidade abismal que a virada do milênio teve para os
vascaínos.
Ao todo, como já dissemos, o genial
centroavante foi às redes 72 vezes. Cheguei a esse número por meio de pesquisa
própria, já que fontes diversas forneciam informações conflitantes. No
estadual, Romário anotou 19 gols, tendo sido o artilheiro do certame. Antes do
carioca, já havia feito 12 no Torneio Rio-São Paulo e 3 no Mundial Interclubes.
Na Copa do Brasil, o Vasco, precocemente eliminado, contou com apenas 1 gol de
Romário. Na Mercosul, foram 11, e, no Brasileirão, 19. Pela seleção, 7 tentos,
quatro deles contra a Venezuela, fora de casa, ocasião em que Juninho
Pernambucano, Juninho Paulista e Euller, colegas de uma estupenda linha de
frente cruzmaltina, também foram titulares. Os amistosos, ressalto, estão fora
da conta.
Um dos meus três ou quatro leitores
(quatro se eu conseguir obrigar minha esposa a ler isto) pode contestar os 19
gols da Copa João Havelange, no que estaria absolutamente correto: foram 20. Todavia,
o segundo jogo da final contra o São Caetano só aconteceu em janeiro de 2001,
fato que exclui da soma o gol de Romário nesse jogo.
Mais impressionante do que o altíssimo
índice pluviométrico do Baixinho em 2000 foi a idade com que ele executou a
façanha. Seu ano mais chuvoso não veio nos tempos de menino lépido nem no auge
em Barcelona, mas já com 34 anos. A explicação talvez resida, em parte, na fantástica
parceria com Euller. Se Bebeto foi a bola-metade de Romário, Euller foi uma
espécie de segundo casamento, da chuva com o vento.
Numa semana em que tanto se falou
sobre o artilheiro carioca e cinquentão, não ouvi nenhuma menção a uma de suas mais
impressionantes marcas. Será que não se lembram do temporal de gols em 2000?
Esquisito. Meus três leitores (minha esposa desistiu no primeiro parágrafo),
pelo menos, carregarão consigo a memória dessa proeza atemporal.