Às vésperas do mais aguardado embate
das oitavas-de-final da Champions League (Real Madrid x Manchester United,
naturalmente), Alex Ferguson deve estar aflito com a fraquíssima atuação diante
do limitado Fulham. Preocupa-o, também, a volúpia com que o ex-pupilo Cristiano
Ronaldo irá para cima de uma defesa que, nesta temporada, tem se revelado um
tanto frágil. Mas há algo que conforta sir Alex, e não estamos falando da
capacidade nem da experiência do ótimo duo Rooney / Van Persie. Tampouco se
trata do fato de o Man Utd jogar a segunda partida em Old Trafford. O alento de
Ferguson consiste na probabilíssima ausência, em ambos os duelos, de alguém
que, num passado nem tão distante assim, derrubou implacavelmente a sua
fortaleza, fazendo dois fantásticos gols em Manchester e mais um em Milão.
O ano era 2007, e o demolidor em
questão era Kaká, que, meses depois da semifinal de Champions League contra a
equipe de Ferguson, seria eleito o melhor jogador do mundo. Naquela edição da
copa continental − da qual foi artilheiro, com 10 gols −, Kaká já fizera um
golaço contra o Celtic, conduzindo o Milan às quartas. E voltaria a ser
decisivo na final, construindo uns ¾ do tento de Inzaghi, o segundo da vitória
de 2 a 1 sobre o Liverpool. Revanche da decisão de 2005, em Istambul, na qual,
diga-se de passagem, Kaká foi o melhor do primeiro tempo arrasador do Milan. O assombroso lançamento para um dos gols de Hernán
Crespo está, tal como o rush que provocou a
estrambótica colisão de defensores do Manchester United em 2007, no numeroso
rol de grandiosas jogadas de Kaká na mais importante competição clubística do
planeta.
Ninguém poderia prever que, seis
anos depois, um jogador desse naipe, aparentemente em boas condições atléticas
(recentes aparições na seleção brasileira o atestam), estaria encostado numa
interminável suplência. Nas duas últimas temporadas, o Real Madrid abdicou, em
etapas bem avançadas da Champions League, de um craque talhado para batalhas
intensas e cruentas. Não há explicação técnica para a predileção por Di María,
Modric, Benzema ou Higuaín, principalmente em situações extremas. Nem o ótimo
Özil justifica um Kaká preterido. Poderia haver algum componente físico
envolvido; os cinco concorrentes, afinal, são mais jovens e têm jogado com
frequência maior; no entanto, como adquirir ritmo de jogo se, com a liga
nacional perdida e com a vaga na próxima Champions League praticamente
assegurada, o técnico não o escala nem contra o Granada?
Não é novidade que, por trás desse
desprezo, há muito mais do que meras opções táticas. Matérias como a do jornal El
País levantaram suspeitas sobre a
isenção de Mourinho na hora de selecionar quem vai a campo. Caso a influência
do poderoso empresário Jorge Mendes – agente de Mourinho e de vários jogadores
do time merengue – realmente interfira na relação entre o treinador lusitano e
seus comandados, como afirma o pai de Kaká na referida reportagem, a
subutilização de Kaká entra numa seara nebulosa e repulsiva. Prefiro acreditar
em incompatibilidade de gênios, fogueira de vaidades, implicância tacanha,
qualquer fator extracampo verossímil que combine com o egocentrismo de Mourinho
e afaste a teoria conspiratória. Porque esta, se comprovada, poderia resultar até
em constrangimentos para Scolari, cujas negociações no exterior são conduzidas
por Jorge Mendes. Como se sabe, Kaká não foi convocado para o amistoso contra a
Inglaterra, mesmo tendo jogado muito bem nas últimas partidas da seleção em
2012. Suas atuações sob a batuta de Mano Menezes geraram, inclusive, embaraço
para Mourinho, já que o óbvio ficou mais ululante: Kaká não é um traste.
O tratamento a ele dispensado,
porém, tem sido esse. Não me recordo de outro boicote tão absurdo, que tenha
subtraído tanto tempo de jogo de um craque. É uma pena, por exemplo, que, nos
confrontos entre Real e Barcelona dos últimos tempos, muitos deles épicos, Kaká
não tenha recebido grandes oportunidades. Enquanto Messi e Cristiano Ronaldo
puderam aproveitar um período mágico dessa rivalidade, ao meia-atacante brasileiro
essa chance foi negada. E ele não foi a única vítima dessa privação – quem
aprecia futebol há de ter sentido sua falta. Quem viu Milan 3x0 Manchester
United, jogo de volta das semifinais da Champions League 2006/7, sabe do que
estou falando. Ferguson estava ali, bem perto, e sabe muito bem. Mas não está
sentindo falta alguma.
Esse tal de Rafael é um canalha mesmo ! Fica roubando minhas resenhas e postando aqui !! 71 !!
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