Brasil
pode perder, em casa, honrosa condição que conquistou há 64 anos, também em
casa: a de país com maior número de gols, somadas todas as Copas
Desde 2006, fazer 4 gols tem sido
algo habitual para a Alemanha em partidas de Copa. Costa Rica, Austrália,
Inglaterra, Argentina e Portugal foram vítimas desse apreciável hobby. Mas, se
repetir a suculenta dose contra Gana, no próximo sábado, a Nationalelf não
estará apenas mantendo sua rotina e testificando seu poderio – estará, também,
tomando para si um nobre posto que pertence ao Brasil há 64 anos. Desde 28
junho de 1950, mais precisamente. Nessa data, a seleção chegou, no empate por 2
a 2 contra a Suíça, no Pacaembu, a seu 26º gol em Mundiais. Foi o segundo gol do
Brasil, anotado por Baltazar, o “Cabecinha de Ouro”, que o pôs à frente da
Itália, em cujo cartel figuravam 25 tentos até então.
Na verdade, os brasileiros já haviam
conseguido superar os italianos nos 4 a 0 da abertura da Copa de 1950, diante
do México, mas não de forma definitiva, já que, com os dois gols da derrota
para a Suécia (3x2), no dia seguinte, a Azzurra recuperou a liderança. Depois
do citado gol de Baltazar, na segunda rodada, não haveria mais volta. A seleção
estufaria as redes outras 16 vezes no torneio, atingiria o total de 42 gols em
Mundiais (5 em 1930, 1 em 1934, 14 em 1938 e 22 em 1950) e não seria mais
ultrapassada.
Isso pode mudar no sábado. Com a
goleada que impingiu aos lusitanos, a Alemanha passou a ter 210 gols em Copas,
3 a menos que o Brasil. A aproximação germânica não é inédita: ao fim da Copa
de 1990, o somatório geral mostrava os mesmos 3 gols de diferença (148x145).
Nas três edições seguintes, porém, os ótimos resultados dos escretes de
Parreira, Zagallo e Felipão fariam a distância entre as potências aumentar.
Ronaldo marcou, em cima de Oliver Kahn, na decisão de 2002, o 190º e o 191º
gols tupiniquins. Os rivais, a essa altura, tinham 176.
De lá para cá, a Alemanha contou com
o ataque mais positivo de duas Copas consecutivas −14 gols em 2006, 16 em 2010
− e estreou em 2014 de forma nada econômica. Embora a quantidade de gols a
separar os dois gigantes já tenha sido, em outras ocasiões, diminuta (além da
já mencionada situação pós-1990, vale aludir ao placar de 110 a 106, registrado
após Alemanha 6x0 México, pelo Mundial de 1978), a ameaça à 1ª posição na
artilharia parece mais séria agora. Há tempos, a seleção alemã tem se revelado
mais organizada do que a brasileira no que diz respeito às ações ofensivas. A duradoura
presença de Joachim Löw na comissão técnica tem relação estreita com o apuro
tático de uma equipe que não para de se renovar, dado o contínuo surgimento de
ótimos valores. Klose (36 anos), Podolski (29), Müller (24) e Götze (22) selam
um feliz casamento de gerações no ataque alemão, que ainda poderia dispor do
preterido Mario Gómez e do contundido Reus.
Afobada, dependente de clarões
individuais e pouco inventiva, a dona da casa na Copa de 2014 não parece pronta
para fazer mais gols do que a Alemanha e, de quebra, manter o país na condição
de “topscorer” dos Mundiais. Somente com uma rápida evolução – aliada a uma
provável goleada sobre a fragílima equipe de Camarões −, a projeção pode se
alterar.
É claro que, no jogo de forças do
Mundial de 2014, estatísticas que levam em conta dados de quase um século de
história não provocam interferência alguma no plano da prática. Em
contrapartida, a perda da 1ª colocação no ranking de gols feitos tem grande
relevância no plano simbólico. A tradicional vocação brasileira para o ataque
criativo, para um futebol de dinâmica vistosa e de muitos gols, vem sendo
paulatinamente minada pelo discurso da vitória a qualquer preço. Para os arautos
dessa visão tacanha, só o título fica para a história, não importam os
caminhos. O problema é que, quando o título não vem, não sobra nada. A Alemanha
experimenta o reverso dessa situação. Fracassou nos Mundiais de 2006 e 2010,
mas depositou valores vultosos numa gorda conta futebolística. O investimento a
longo prazo lhe renderá, em 2014, a taça? Não se sabe. Mas pode lhe
proporcionar uma honraria mais modesta neste sábado. Basta seguir o recente
costume de fazer 4 gols.
A contagem de gols, Copa a Copa
Antes de a Copa de 2014 começar, os
11 países mais bem posicionados quanto ao número de gols feitos eram, nessa
ordem: Brasil (210 gols), Alemanha (206), Itália (126), Argentina (123), França
(96), Espanha (88), Hungria (87), Inglaterra (77), Uruguai (76), Suécia (74) e
Holanda (71). Abaixo, confira como cada um chegou a tais marcas. Ao lado de
cada seleção, está a quantidade de gols no Mundial delimitado. Entre
parênteses, o total de gols em Copas até aquele momento da história. A sigla NP
significa “não participou”.
1930 – O Uruguai foi anfitrião e
campeão, mas a Argentina, que jogou uma partida a mais, teve o ataque mais positivo
e o artilheiro do certame (Guillermo Stábile, 8 gols).
Brasil
5 (5)
Alemanha
NP (0)
Itália
NP (0)
Argentina
18 (18)
França
(4)
Espanha
NP (0)
Hungria
NP (0)
Inglaterra
NP (0)
Uruguai
15 (15)
Suécia
NP (0)
Holanda
NP (0)
1934 – Depois desse Mundial, a
Holanda só voltaria a balançar a rede em 1974. Isso explica sua colocação
apenas mediana na tábua, apesar dos três vice-campeonatos.
Brasil
1 (6)
Alemanha
11 (11)
Itália
12 (12)
Argentina
2 (20)
França
2 (6)
Espanha
4 (4)
Hungria
5 (5)
Inglaterra
NP (0)
Uruguai
NP (0)
Suécia
4 (4)
Holanda
2 (2)
1938 – A bicampeã Itália assume a
ponta. Brasil e Hungria, com a ajuda de Sárosi (5 gols na Copa) e Leônidas (artilheiro
do Mundial com 7 gols), alcançam a Argentina.
Brasil
14 (20)
Alemanha
3 (14)
Itália
11 (23)
Argentina
NP (20)
França
4 (10)
Espanha
NP (4)
Hungria
15 (20)
Inglaterra
NP (0)
Uruguai
NP (0)
Suécia
11 (15)
Holanda
0 (2)
1950 – Embora não contasse com o trio
Gre-no-li (Gren, Gunnar Nordahl e Liedholm), campeão olímpico em 1948, a Suécia
obteve a 3ª colocação na Copa e a 4ª na soma de gols de todos os Mundiais.
Brasil
22 (42)
Alemanha
NP (14)
Itália
4 (27)
Argentina
NP (20)
França
NP (10)
Espanha
10 (14)
Hungria
NP (20)
Inglaterra
2 (2)
Uruguai
15 (30)
Suécia
11 (26)
Holanda
NP (2)
1954 – O melhor ataque de uma edição de Copa
pertence à fantástica Hungria de Puskás, Kocsis e Czibor. Também houve profusão
de gols por parte da Alemanha, que venceu os magiares na final.
Brasil
8 (50)
Alemanha
25 (39)
Itália
6 (33)
Argentina
NP (20)
França
3 (13)
Espanha
NP (14)
Hungria
27 (47)
Inglaterra
8 (10)
Uruguai
16 (46)
Suécia
NP (26)
Holanda
NP (2)
1958 – Depois de duas ausências
seguidas, a bicampeã Itália cai para a 7ª posição. Como jamais voltaria a ficar
de fora de um Mundial, hoje ocupa o 3º lugar.
Brasil
16 (66)
Alemanha
12 (51)
Itália
NP (33)
Argentina
5 (25)
França
23 (36)
Espanha
NP (14)
Hungria
7 (54)
Inglaterra
4 (14)
Uruguai
NP (46)
Suécia
12 (38)
Holanda
NP (2)
1962 – Momento mais confortável para
a liderança do Brasil, que, com os 30 gols entre 1958 e 1962, ficou com 18 a
mais do que a Hungria.
Brasil
14 (80)
Alemanha
4 (55)
Itália
3 (36)
Argentina
2 (27)
França
NP (36)
Espanha
2 (16)
Hungria
8 (62)
Inglaterra
5 (19)
Uruguai
4 (50)
Suécia
NP (38)
Holanda
NP (2)
1966 – Não, não nos esquecemos de
Portugal, cujo desempenho ofensivo foi o melhor da Copa (17 gols). Não entra na
lista abaixo porque não está entre os “onze mais” da história.
Brasil
4 (84)
Alemanha
15 (70)
Itália
2 (38)
Argentina
4 (31)
França
2 (38)
Espanha
4 (20)
Hungria
8 (70)
Inglaterra
11 (30)
Uruguai
2 (52)
Suécia
NP (38)
Holanda
NP (2)
1970 – Numa das melhores Copas de todos
os tempos, Brasil e Alemanha começam a se distanciar da concorrência. Jairzinho
e Gerd Müller colaboraram bastante para isso.
Brasil
19 (103)
Alemanha
17 (87)
Itália
10 (48)
Argentina
NP (31)
França
NP (38)
Espanha
NP (20)
Hungria
NP (70)
Inglaterra
4 (34)
Uruguai
4 (56)
Suécia
2 (40)
Holanda
NP (2)
1974 – Nesta edição, a Polônia ressurgiu
em grande estilo: fez 16 de seus 44 gols na história das Copas. França e
Inglaterra, ambas fora da disputa, foram ultrapassadas pela Argentina.
Brasil
6 (109)
Alemanha
13 (100)
Itália
5 (53)
Argentina
9 (40)
França
NP (38)
Espanha
NP (20)
Hungria
NP (70)
Inglaterra
NP (34)
Uruguai
1 (57)
Suécia
7 (47)
Holanda
15 (17)
1978 – A Espanha, com sua exígua
quantidade de gols até aqui, está atrás de Tchecoslováquia, Suíça, Iugoslávia,
Áustria, Chile, etc. Depois, quadruplicaria o acervo.
Brasil
10 (119)
Alemanha
10 (110)
Itália
9 (62)
Argentina
15 (55)
França
5 (43)
Espanha
2 (22)
Hungria
3 (73)
Inglaterra
NP (34)
Uruguai
NP (57)
Suécia
1 (48)
Holanda
15 (32)
1982 – A maior goleada das Copas (10
a 1 sobre El Salvador) manteve a Hungria entre os grandes. Mesmo distante dos Mundiais
desde 1986, sustenta a 7ª posição até hoje.
Brasil
15 (134)
Alemanha
12 (122)
Itália
12 (74)
Argentina
8 (63)
França
16 (59)
Espanha
4 (26)
Hungria
12 (85)
Inglaterra
6 (40)
Uruguai
NP (57)
Suécia
NP (48)
Holanda
NP (32)
1986 – Entre 1978 e 1986, a geração de
Michel Platini marcou 33 gols e consolidou a dianteira da França em relação a
Uruguai e Suécia.
Brasil
10 (144)
Alemanha
8 (130)
Itália
5 (79)
Argentina
14 (77)
França
12 (71)
Espanha
11 (37)
Hungria
2 (87)
Inglaterra
7 (47)
Uruguai
2 (59)
Suécia
NP (48)
Holanda
NP (32)
1990 – Repare como a vice-campeã
Argentina chegou à decisão tendo feito apenas 5 gols na competição. A Holanda,
mesmo com Van Basten e Gullit, não passou de míseros 3 gols.
Brasil
4 (148)
Alemanha
15 (145)
Itália
10 (89)
Argentina
5 (82)
França
NP (71)
Espanha
6 (43)
Hungria
NP (87)
Inglaterra
8 (55)
Uruguai
2 (61)
Suécia
3 (51)
Holanda
3 (35)
1994 – Romênia e Bulgária marcaram 10
gols cada. Mas o melhor ataque da Copa foi o da Suécia, que ficou
momentaneamente à frente de Uruguai e Inglaterra no placar geral.
Brasil
11 (159)
Alemanha
9 (154)
Itália
8 (97)
Argentina
8 (90)
França
NP (71)
Espanha
10 (53)
Hungria
NP (87)
Inglaterra
NP (55)
Uruguai
NP (61)
Suécia
15 (66)
Holanda
8 (43)
1998 – Neste Mundial, Itália e
Argentina atingem a marca dos 100 gols e se firmam como postulantes à 3ª colocação.
A briga continua apertada no cenário atual.
Brasil
14 (173)
Alemanha
8 (162)
Itália
8 (105)
Argentina
10 (100)
França
15 (86)
Espanha
8 (61)
Hungria
NP (87)
Inglaterra
7 (62)
Uruguai
NP (61)
Suécia
NP (66)
Holanda
13 (56)
2002 – Embora não tenha encantado o
planeta, o Brasil deu uma disparada. A decepcionante França não conseguiu fazer
gol, adiando a ultrapassagem sobre a Hungria para a edição seguinte.
Brasil
18 (191)
Alemanha
14 (176)
Itália
5 (110)
Argentina
2 (102)
França
0 (86)
Espanha
10 (71)
Hungria
NP (87)
Inglaterra
6 (68)
Uruguai
4 (65)
Suécia
5 (71)
Holanda
NP (43)
2006 – Nas oitavas-de-final, contra
Gana, a seleção do Brasil se tornou a primeira a alcançar 200 gols. No mesmo
embate, Ronaldo assumiu a artilharia isolada dos Mundiais.
Brasil
10 (201)
Alemanha
14 (190)
Itália
12 (122)
Argentina
11 (113)
França
9 (95)
Espanha
9 (80)
Hungria
NP (87)
Inglaterra
6 (74)
Uruguai
NP (65)
Suécia
3 (74)
Holanda
3 (59)
2010 – O total de gols da Alemanha desconsidera
a Alemanha Oriental, que participou da Copa de 1974. Portanto, entre os 206
gols da Alemanha estão os da Alemanha Ocidental (até 1990) e os da Alemanha reunificada (de 1994 aos dias
atuais).
Brasil
9 (210)
Alemanha
16 (206)
Itália
4 (126)
Argentina
10 (123)
França
1 (96)
Espanha
8 (88)
Hungria
NP (87)
Inglaterra
3 (77)
Uruguai
11 (76)
Suécia
NP (74)
Holanda
12 (71)
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