Luís
Fabiano está a 43 gols de fazer o que ninguém consegue há mais de 30 anos: assumir
o posto de maior artilheiro de um clube grande do Brasil
Sim, você já deve saber que, no
último domingo, Luís Fabiano marcou seu ducentésimo gol com a camisa do São
Paulo. Também é bem provável que você tenha a informação de que Serginho
Chulapa, com 242 gols marcados pelo tricolor, pode ser alcançado pelo “Fabuloso”.
Mas talvez você não tenha atinado com um detalhe que torna mais especial a
escalada do centroavante rumo ao topo da artilharia são-paulina: faz mais de 30
anos a última vez em que o goleador número 1 de um gigante brasileiro foi
destronado.
Aconteceu precisamente em 12 de junho
de 1983. Diante de 9.909 espectadores no Parque do Sabiá (público bastante sugestivo),
Reinaldo fez dois contra o Uberlândia e ultrapassou Dario. Naquele domingo, o maior
ídolo da história do Galo chegou a 213 gols pelo clube. Ele fecharia a conta
com 255.
Marcas históricas vinham sendo
batidas com frequência nessa época. Serginho havia superado Gino Orlando em
1982, seu último ano trajando a camisa do São Paulo. Em 1979, Zico e Roberto
Dinamite, duas máquinas de botar bola na rede, bateram Dida e Ademir Menezes,
respectivamente.
Os outros distintos membros do clube
− Tostão (Cruzeiro), Pelé (Santos), Waldo (Fluminense), Quarentinha (Botafogo),
Alcindo (Grêmio), Cláudio (Corinthians), Carlitos (Inter) e Heitor (Palmeiras) –
associaram-se em tempos ainda mais remotos, que vão do início da década de 70,
quando Tostão deixou Niginho para trás, até a era pré-profissionalismo, na qual
o palestrino Heitor construiu sua marca de 327 tentos.
Nas últimas décadas, o aumento da
rotatividade nos times brasileiros e a explosão de transferências para o
exterior minaram as possibilidades de novos recordes. Já na Europa, bem menos
afetada por esses males, o revezamento no ponto mais alto da artilharia seguiu
seu curso natural; se ainda há, no seleto rol, monstros do passado como Gerd
Müller (Bayern), Giuseppe Meazza (Inter) e Gunnar Nordahl (Milan), há
igualmente figuras hodiernas como Henry (Arsenal), Del Piero (Juventus) e Messi
(Barcelona). Em alguns tradicionais emblemas do Velho Continente, o processo
sucessório está em pleno andamento: Cristiano Ronaldo (289 gols pelo Real
Madrid) vai acabar tomando o cetro de Raúl (323), e Rooney (224 gols pelo
Manchester United) deve sobrepujar Bobby Charlton (249).
No Brasil, a expectativa de “transição
no poder” se restringe ao São Paulo, mesmo. Não tivesse sofrido tantas lesões,
Fred, no Fluminense desde 2009 (anotou 142 gols desde então), poderia estar no
encalço de Waldo (319). As longas ausências tornaram a tarefa quase impossível.
Nos outros grandes clubes brasileiros, os reinados tendem a permanecer como
estão por um bom tempo. Não há nem sombra de uma leve ameaça.
Tudo isso enobrece a missão de Luís
Fabiano. Ainda faltam 43 gols e, portanto, não vai ser fácil, mas o fato de
estar desbravando um território inexplorado há 32 anos é valoroso por si só.
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