sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Perto da meta

Luís Fabiano está a 43 gols de fazer o que ninguém consegue há mais de 30 anos: assumir o posto de maior artilheiro de um clube grande do Brasil

            Sim, você já deve saber que, no último domingo, Luís Fabiano marcou seu ducentésimo gol com a camisa do São Paulo. Também é bem provável que você tenha a informação de que Serginho Chulapa, com 242 gols marcados pelo tricolor, pode ser alcançado pelo “Fabuloso”. Mas talvez você não tenha atinado com um detalhe que torna mais especial a escalada do centroavante rumo ao topo da artilharia são-paulina: faz mais de 30 anos a última vez em que o goleador número 1 de um gigante brasileiro foi destronado.

            Aconteceu precisamente em 12 de junho de 1983. Diante de 9.909 espectadores no Parque do Sabiá (público bastante sugestivo), Reinaldo fez dois contra o Uberlândia e ultrapassou Dario. Naquele domingo, o maior ídolo da história do Galo chegou a 213 gols pelo clube. Ele fecharia a conta com 255.

            Marcas históricas vinham sendo batidas com frequência nessa época. Serginho havia superado Gino Orlando em 1982, seu último ano trajando a camisa do São Paulo. Em 1979, Zico e Roberto Dinamite, duas máquinas de botar bola na rede, bateram Dida e Ademir Menezes, respectivamente.

            Os outros distintos membros do clube − Tostão (Cruzeiro), Pelé (Santos), Waldo (Fluminense), Quarentinha (Botafogo), Alcindo (Grêmio), Cláudio (Corinthians), Carlitos (Inter) e Heitor (Palmeiras) – associaram-se em tempos ainda mais remotos, que vão do início da década de 70, quando Tostão deixou Niginho para trás, até a era pré-profissionalismo, na qual o palestrino Heitor construiu sua marca de 327 tentos.

            Nas últimas décadas, o aumento da rotatividade nos times brasileiros e a explosão de transferências para o exterior minaram as possibilidades de novos recordes. Já na Europa, bem menos afetada por esses males, o revezamento no ponto mais alto da artilharia seguiu seu curso natural; se ainda há, no seleto rol, monstros do passado como Gerd Müller (Bayern), Giuseppe Meazza (Inter) e Gunnar Nordahl (Milan), há igualmente figuras hodiernas como Henry (Arsenal), Del Piero (Juventus) e Messi (Barcelona). Em alguns tradicionais emblemas do Velho Continente, o processo sucessório está em pleno andamento: Cristiano Ronaldo (289 gols pelo Real Madrid) vai acabar tomando o cetro de Raúl (323), e Rooney (224 gols pelo Manchester United) deve sobrepujar Bobby Charlton (249).

            No Brasil, a expectativa de “transição no poder” se restringe ao São Paulo, mesmo. Não tivesse sofrido tantas lesões, Fred, no Fluminense desde 2009 (anotou 142 gols desde então), poderia estar no encalço de Waldo (319). As longas ausências tornaram a tarefa quase impossível. Nos outros grandes clubes brasileiros, os reinados tendem a permanecer como estão por um bom tempo. Não há nem sombra de uma leve ameaça.

            Tudo isso enobrece a missão de Luís Fabiano. Ainda faltam 43 gols e, portanto, não vai ser fácil, mas o fato de estar desbravando um território inexplorado há 32 anos é valoroso por si só.

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